Como oferecer sacrifício vivo
Cristo morreu, segue-se que todos cristãos morreram ( 2Co 5:15
“ROGO-VOS, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” ( Rm 12:1
)
Como cumprir a recomendação do apóstolo Paulo?Em primeiro lugar não é se socorrendo da definição de sacrifício que consta em dicionários. Saber que sacrifício é ‘qualquer coisa consagrada e ofertada a Deus’ não nos auxiliará na compreensão da orientação paulina, pois não há dicionário no mundo que esclareça como tornar um ‘corpo’ possuidor dos predicativos que se seguem: vivo, santo e agradável.
Em segundo lugar, sabemos que é impossível ao homem natural compreender as coisas de Deus, portanto, não podemos esperar que o trabalho de lexicógrafos nos auxilie na compreensão das Escrituras ( 1Co 2:14
O apóstolo Paulo roga aos cristãos, ou seja, ele não estabelece uma determinação, uma ordenança, ou uma lei, pois ao chamá-los de irmãos, demonstra que, apesar de estar em posição de impor determinações, por ser apóstolo, não impõe, pois tudo que um cristão faz é voluntário, pois Deus a ninguém oprime ( Jó 37:23
Ele roga aos seus irmãos pela compaixão de Deus, ou seja, por Cristo. Cristo é a compaixão de Deus revelada aos homens.
O apóstolo Paulo não utiliza o seu apostolado para impor determinações aos cristãos, antes roga no nome do Senhor Jesus, o primogênito dentre muitos irmãos, para que a sua exortação fosse acatada ( Rm 8:29
Como o verso em análise aborda as questões de oferta e sacrifício, geralmente vem à mente do leitor os sacrifícios oferecidos sob a velha aliança. Porém, os sacrifícios que se ofereciam segundo a lei eram todos ‘cadáveres’, por mais perfeito que fosse o cordeiro escolhido. Para o sacrifício o animal era morto e, após, disposto sobre o altar em holocausto, mas Deus já sinalizava que não se deleitava somente na sombra dos bens futuros "Pois não desejas sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas em holocaustos" ( Sl 51:16
Embora o sacrifício para a redenção da humanidade já foi ofertado, pois Cristo é o Cordeiro de Deus, a bíblia nos demonstra que sob a nova aliança também é possível oferecer sacrifício a Deus. O escritor aos hebreus assim orienta: "Portanto, ofereçamos sempre por ele a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome" ( Hb 13:15
Neste mesmo sentido alerta o apóstolo Pedro: “Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo” ( 1Pe 2:5
Como? Se Cristo é a pedra fundamental, o sumo sacerdote, o sacrifício e o primogênito entre muitos irmãos, todos os cristãos, como coerdeiros, filhos de Deus, também são pedras vivas e sacerdotes real edificados casa espiritual ( 1Pe 2:15
Mas, qual o objetivo de os cristãos terem sido edificados casa espiritual? Para oferecerem sacrifícios agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo ( Hb 13:15
Neste sentido o salmista Davi preanunciou: "Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus" ( Sl 51:17
- "Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos" ( Jo 15:8
);
- “Aquele que oferece o sacrifício de louvor me glorificará” ( Sl 50:23
);
- "Portanto, ofereçamos sempre por ele a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome" ( Hb 13:15
).
Se o sacrifício do cristão é oferecer o ‘fruto dos lábios’, ou ‘sacrifício de louvor’, ou ‘professar o nome de Cristo’, que glorifica o Pai, o que o apóstolo Paulo propõe aos irmãos no verso 1 do capítulo 12 da epístola aos cristãos em Roma?
Como é assente que ‘um texto fora do contexto é pretexto’, devemos analisar o contexto de Romanos 12.
Antes de analisarmos o contexto de Romanos 12, observe este verso: "Oferecer-te-ei sacrifícios de louvor, e invocarei o nome do SENHOR" ( Sl 116:17
Lembrando que na poesia hebraica temos uma espécie de rima de pensamentos, nunca de som, ou seja, as idéias é que são relacionadas e não o som, ou rima. É esta uma das características da poesia hebraica que preserva a beleza e a idéia mesmo quando se traduz para qualquer outra língua. Compare:
- “Aquele que oferece o sacrifício de louvor me glorificará” ( Sl 50:23
);
- “Oferecer-te-ei sacrifícios de louvor, e invocarei o nome do SENHOR" ( Sl 116:17
);
- "E ofereçam os sacrifícios de louvor, e relatem as suas obras com regozijo" ( Sl 107:22
);
- "Oferecei sacrifícios de justiça, e confiai no SENHOR" ( Sl 4:5
).
Se o paralelismo sinônimo da poesia hebraica estabelece que ‘oferecer sacrifício de louvor’ é o mesmo que ‘invocar o nome do Senhor’, segue-se que o que o apóstolo Paulo propõe no capítulo 12 é continuação das idéias exaradas no capítulo 10, o que não é de se estranhar, pois se trata de uma epístola ( Rm 10:13
Os mesmos irmãos que o apóstolo roga para que apresentem os seus corpos em sacrifício, foram abordados no capítulo 10: “Irmãos, o bom desejo do meu coração...” ( Rm 10:1
Qual era o bom desejo do coração do apóstolo Paulo? Que os seus irmãos na carne (judeus) fossem salvos, porém, ele bem sabia que os seus compatriotas, apesar do zelo, não tinham o ‘entendimento’ de Deus ( Rm 10:2
Que entendimento lhes faltava? Que Deus é rico para com todos que O invocam ( Rm 10:12),
Para os que não compreendem a verdade do evangelho o ciúmes permanece ( Rm 10:19
Quando o escritor aos Hebreus cita o Salmo "Dizendo: Anunciarei o teu nome a meus irmãos, Cantar-te-ei louvores no meio da congregação" ( Hb 2:12
Após declinar qual era o desejo do seu coração ( Rm 10:1
O sacrifício do cristão é professar a Cristo, mas quando há qualquer tipo de discriminação nega-se a eficácia do evangelho ( Hb 13:15
Diante das diferenças que alguns ainda evocavam por entenderem que mesmo no evangelho persistiam as diferença entre judeus e gentios (ambos, judeus e gentios, não haviam compreendido que os judeus não são mais excelentes que os gentios, e que os judeus não foram rejeitados Rm 3:9
Até mesmo considerar que os dons que foram repartidos tornam alguns cristãos melhores que outros não é racional diante de Deus, pois o douto não é melhor que o neófito “Porque os que em nós são mais nobres não têm necessidade disso, mas Deus assim formou o corpo, dando muito mais honra ao que tinha falta dela para que não haja divisão no corpo, mas antes tenham os membros igual cuidado uns dos outros” ( 1Co 12:24
Como por natureza o cristão é vivo, santo e agradável a Deus, o sacrifício também é vivo, santo e agradável. Por quê? Porque os cristãos já ressurgiram com Cristo e são pedras vivas, sacerdócio real, templo santo. Como é o templo que santifica o ouro, e o altar que santifica a oferta, o sacrifício é vivo, santo e agradável porque o cristão é pedra viva (templo e altar), nação santa, sacerdócio santo, casa espiritual, etc. ( 1Pe 2:5
Conclui-se que, aqueles que não aceitam os irmãos como sendo seu igual, ainda está morto. Não creu em Cristo conforme as escrituras, e não pode oferecer o seu corpo em sacrifício vivo, santo e agradável. Não cultua o culto racional, pois para santificar os membros do seu corpo, o próprio Jesus utilizou a palavra, o que torna a igreja santa e irrepreensível “Para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” ( Ef 5:26
O apóstolo Paulo considerou tudo como esterco para alcançar a Cristo "E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo" ( Fl 3:8 ), porém, não podia falar-lhes abertamente, por questões socioculturais, que ser judeu ou ser gentil, quando em Cristo, era de nenhum valor, o mesmo que nada, escória ( Gl 6:15
O apóstolo Paulo roga aos cristãos que ofereçam os seus corpos em sacrifício vivo, santo e agradável, pois somente desta forma todas as diferenças socioculturais seriam excluídas. Sacrificar as diferenças socioculturais é o culto racional, pois todo os cristãos, não importando suas origens, são povo adquirido, sacerdotes santos, pedras vivas, casa espiritual para oferecerem sacrifícios santos e agradáveis a Deus ( 1Pe 2:5
O culto racional só é possível após ser participante do leite racional. O que é o leite racional? A palavra da verdade que concede crescimento, que torna o cristão sóbrio, com o entendimento cingido ( 1Pe 2:2
Nascer de novo é um imperativo, mas sacrificar as diferenças sociais em função da unidade do corpo de Cristo é uma disposição voluntária, por isso o apóstolo Paulo roga no verso 1, do capítulo 12 da carta aos Romanos. O apóstolo dos gentios destaca que os cristãos são muitos, mas são um só corpo em Cristo, ou seja, individualmente cada cristão é membro um dos outros, portanto, não pode haver diferença entre os cristãos “Assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros” ( Rm 12:5
Daí vem o imperativo: não sede conformados com o mundo! O que isto quer dizer? Que as diferenças apregoadas pelos judaizantes, algo próprio ao mundo, não devia ser a tônica dos cristãos ( 1Pe 1:14
A mudança de comportamento operada pela transformação do entendimento é o que tapa a boca à ignorância dos homens insensatos, daqueles que se ensoberbecem a favor de um contra o outro, pois vão além do que está escrito "Porque assim é a vontade de Deus, que, fazendo bem, tapeis a boca à ignorância dos homens insensatos" ( 1Pe 2:15
Apresentar o corpo como sacrifício vivo, santo e agradável é culto racional ofertado a Deus, ou seja, refere-se a uma transformação na compreensão através da verdade do evangelho (leite racional). O cristão que pensava que os judeus eram mais ilustres que os demais homens diante de Deus precisavam compreender que no corpo de Cristo não há diferença entre judeus e gentios, pois através da operação do evangelho da paz foi feito dos dois povos um novo homem ( Ef 2:15
O culto racional, o mesmo que compreender que todos (judeus e gentios) são um só corpo em Cristo Jesus é apontado como sendo um sacrifício que os cristãos, individualmente e voluntariamente, poderiam oferecer a Deus.
Além de andar de acordo a compreensão do Evangelho podemos oferecer também sacrifício de louvor que decorre do fruto dos lábios, conforme demonstra o escritor aos hebreus ( Hb 13:15
Sob a Velha Aliança, era oferecido a Deus o sacrifício de animais, o que prenunciava o sacrifício do Cordeiro de Deus, Jesus Cristo. Apresentar o corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus não é o mesmo que um processo de santificação, pois a santificação se dá única e exclusivamente pela vontade de Deus através da oferta do corpo de Cristo ( Hb 10:10
Apresentar o ‘corpo’ em sacrifício vivo, santo e agradável também não é o mesmo que apresentar os ‘membros’ a Deus como instrumento de justiça, pois apresentar os membros como instrumento de justiça é abster-se da concupiscência, e apresentar o corpo em sacrifício, um culto racional ( Rm 6:12
Enquanto o culto racional refere-se à voluntariedade do cristão em aceitar qualquer pessoa, independente das suas origens e condições sociais, como sendo participante do corpo de Cristo, apresentar os membros a Deus como instrumento de justiça refere-se ao comportamento do cristão após tornar-se servo da justiça ( 1Pe 2:11
Observe que a estrutura de texto da primeira epistola do apóstolo Pedro, apesar de não ter o mesmo contexto (judeus versus gentios), demonstra que os sacrifícios agradáveis a Deus ( 1Pe 2:5
Fica claro após uma releitura do verso em análise que a ‘transformação pela renovação do entendimento’ se traduz em aceitação das diferenças socioculturais dos cristãos, pois após a reconciliação efetivada na cruz ( Ef 2:16
Por quê? Porque após oferecer o corpo em sacrifício o cristão deixa de considerar os membros do corpo de Cristo segundo a carne (judeus e gentios), como alertou o apóstolo Paulo "Assim que daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne, e, ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo" ( 2Co 5:16
Cristo morreu, segue-se que todos cristãos morreram ( 2Co 5:15
Ao oferecer o corpo em sacrifício vivo, santo e agradável, que é o culto racional, o cristão compreendeu que na unidade do corpo de Cristo há servo, livre, judeu, grego, homem, mulher, etc. É o mesmo que “... amar a Deus de todo o coração, e de todo o entendimento, e de toda a alma, e de todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo...”, ou seja, oferecer sacrifício de louvor “... é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios" ( Mc 12:33
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